terça-feira, 25 de novembro de 2014

POESIA AFRICANA 4: GUINÉ BISSAU * ANTONIO CABRAL FILHO - RJ

POESIA AFRICANA 4: GUINÉ BISSAU

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Regresso - Poema de Amílcar Cabral, da Guiné-Bissau

Amílcar Cabral nasceu em Bafatá, Guiné-Bissau, em 12 de setembro de 1924, mas foi criado em Cabo Verde. Foi um militante político clandestino que representou os dois países durante toda sua vida na luta contra o neocolonialismo e contra a opressão europeia sobre a África, até ser assassinado por um membro do seu próprio partido, em 20 de janeiro de 1973. Segue abaixo um de seus poemas:




REGRESSO

Mamãe Velha, venha ouvir comigo
o bater da chuva lá no seu portão.
É um bater de amigo
que vibra dentro do meu coração.

A chuva amiga, Mamãe Velha, a chuva,
que há tanto tempo não batia assim...
Ouvi dizer que a Cidade-Velha,
— a ilha toda —
Em poucos dias já virou jardim...
Dizem que o campo se cobriu de verde,

da cor mais bela, porque é a cor da esp´rança.

Que a terra, agora, é mesmo Cabo Verde.
— É a tempestade que virou bonança...


Venha comigo, Mamãe Velha, venha,

recobre a força e chegue-se ao portão.

A chuva amiga já falou mantenha

e bate dentro do meu coração!
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( http://ufanisi.blogspot.com.br/2011/07/regresso-poema-de-amilcar-cabral-da.html )
&
POESIA AFRICANA: GUINÉ BISSAU
1 - http://www.minhasimagens.org/site/?page_id=4692 
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2 - http://parquedospoetas.cm-oeiras.pt/ 
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3 - http://embaguibrasil.blogspot.com.br/2011/09/pequena-nota-biografica-do-autor-por.html 
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4 - http://wanderleyelian.blogspot.com.br/2009/04/serie-poesia-africana-iii-guine-bissau.html 
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5 - http://www.teiaportuguesa.com/guineebissau/viagemguinebissau.htm 
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6 - http://novasdaguinebissau.blogspot.com.br/ 
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7 - http://revistaliteratas.blogspot.com.br/2012/10/livros-poesia-da-guine-bissau-historia.html 
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8 - http://kriol.wordpress.com/poemas/ 
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9 - http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_africana/guine_bissau/guine_bissau.html 
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domingo, 23 de novembro de 2014

POESIA AFRICANA 3: CABO VERDE * ANTONIO CABRAL FILHO - RJ

POESIA AFRICANA 3: CABO VERDE
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1 - 


CABO VERDE ANTOLOGIA
DE POESIA CONTEMPORÂNEA
Edição: 
Revista África e Africanidades
Ano IV Nº 13 Maio 2011
http://pt.calameo.com/read/00189307354b1e34b3297 
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2 - 

João Furtado e Senhora
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CABO VERDE FEMININO


 no livro A TERRA E A GUERRA PELA PAZ Vol-II

ACESSEM-NO
http://joaopcfurtado.blogspot.com.br/2014/03/cabo-verde-feminino-no-livro-terra-e.html
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PORTAL CEN / JOÃO FURTADO
http://www.caestamosnos.org/autores/autores_j/JOAO_FURTADO.htm 
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3 - http://www.manduco.net/apps/blog/show/3975482-a-literatura-do-fogo-no-universo-cabo-verdiano- 
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4 - http://www.embcv.org.br/portal/modules/news/article.php?storyid=1430 
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5 - http://tabanka.no/poesiakriolu.htm 
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6 - http://www.limacoelho.jor.br/index.php/Poetas-de-Cabo-Verde/ 
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7 - http://www.youtube.com/watch?v=rIlVUaX90Pc 
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8 - http://daivarela.blogspot.com.br/2013/10/site-brasileiro-tem-grande-coleccao-de.html 
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9 - http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_africana/cabo_verde/cabo_verde_index.html 
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10 - http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_africana/cabo_verde/jorge_barbosa.html 
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sábado, 22 de novembro de 2014

POESIA AFRICANA 2: ANGOLA * Antonio Cabral Filho - RJ

POESIA AFRICANA 2: ANGOLA * Antonio Cabral Filho - RJ
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MEUS AMIGOS,
devido à vastidão do assunto, prefiro não fazer preleções, pois me estenderia demais, falando em poesia angolana, com a qual fiz contato no meado dos anos 70, através do MPLA. Por isso, prefiro que os amigos acessem os links abaixo e encontrem o que buscam. Boas pesquisas, ótimas leituras!

1 - http://www.agostinhoneto.org/index.php?option=com_content&view=article&id=1104:a-batalha-pelos-coracoes-foi-ganha-pela-poesia&catid=37:noticias&Itemid=206 
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2 - http://www.embaixadadeangola.org/cultura/literatura/autores.html 
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3 - http://www.ueangola.com/criticas-e-ensaios/item/264-a-poesia-e-os-seus-paradoxos 
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4 - http://poesiangolana.blogspot.com.br/ 
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5 - http://www.angolabelazebelo.com/category/poesia-angolana/ 
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6 - http://angolapoetas.blogspot.com.br/ 
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7 - http://www.lusofoniapoetica.com/artigos/angola.html 
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8 - http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_africana/angola/angola_index.html 
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sexta-feira, 21 de novembro de 2014

POESIA AFRICANA 1: MOÇAMBIQUE * ANTONIO CABRAL FILHO - RJ

POESIA AFRICANA 1: MOÇAMBIQUE 
* Antonio Cabral Filho - RJ
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MEUS AMIGOS,
devido à grandeza do assunto, prefiro não tecer abordagens, pois me estenderia demais, falando em Poesia Africana, sobretudo Moçambicana. Por isso, convido-os a acessarem os links abaixo e encontrarem o que buscam. Boas pesquisas e ótimas leituras!

1 - http://encontrodosescritores.blogspot.com.br/2010/08/escritores-convidados.html 
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2 - http://revistaliteratas.blogspot.com.br/2013/01/os-poetas-levarao-pelo-indico-poesia.html 
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3 -http://ricardoriso.blogspot.com.br/2011/10/poetas-de-mocambique-antologia-de.html 
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4 - http://lusofonia.com.sapo.pt/Mocambique.htm 
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5 - http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_africana/mocambique/mocambique.html 
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terça-feira, 18 de novembro de 2014

CANTA MINHA CIGARRA - Crônica do Carnaval 1975 * Antonio Cabral Filho - RJ

-Foto: Internet-
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Moro na periferia, mas já morei no centro da cidade, ali no Catumbi,entre a cidade e a Favela da Mineira, e, vez por outra, vou à Praça Cruz Vermelha, degustar um galeto e tomar uns birinaites com meus irmãos de rabo-de-foguete.

Neste último sábado, me encontrei lá com Sabu e Micuim. Menti pra eles, dizendo que encontrara Tião Maria e Oswaldo Nunes, juntinhos os dois, na Praça de Osvaldo Cruz, devorando picanha regada a vinho. "É rúim, hein!", gritou Sabu. "Tô te dizendo que esse aí fez batida do "cerbro" e tu não quer acreditar....", observou Micuim, estufando o bico tipo Jamelão. Sentei-me junto com eles, naqueles banquinhos de concreto e propus o meu menu. O garçon apareceu, anotou tudo e sumiu. Perguntei-lhes se a fantasia estava pronta para o desfile e a resposta foi a de sempre: Perfumada!

Somos integrantes do Bloco Carnavalesco Bafo da Onça, criado pelo "colega" Tião Maria, junto com Juruna, Mistura, entre outros, em 12 de Dezembro de 1956, num bar do Catumbi. "Colega", porque somos policiais assim como ele. Muitos fazem pouco do Tião, tratam ele com desprezo, fazem-no de trouxa, pensam que ele é um manezão, mas se enganam. Por exemplo, todo mundo pode participar do bloco, desfilar, sair nele etc, mas se "aprontar", acabou. Nem frequenta mais, "pra não impreguinar", segundo suas palavras.

Certa vez, eu, Micuim e Sabu questionamos ele sobre a importância dada ao Oswaldo Nunes no bloco, sua liberdade, sua autonomia etc. Ele ficou chocado com isso. Segundo ele, Osvaldo Nunes era a ALMA do bloco, que até seus chiliques de bicha eram importantes para o bloco, que quebrava o machismo imperante no ambiente de carnaval, que ele descontraia todo mundo, porque nós, os heterossexuais, éramos uns castrados psicologicamente, pois tínhamos medo de nos soltar, de extravasar nossas neuroses e que só nos revelávamos de porre. Então lhe perguntei se nós, a tropa da corda, tínhamos como função garantir aquela "BICHA" cantando sobre o carro de som. Mas pra que eu disse isso! O Tião chegou soluçar. "Você está entendendo tudo errado! Disse, gritando comigo. "O cordão é para organizar os foliões, identificar quem é do bloco para o público e abrir caminho...! "Esse cara tá me chamando de Oxum?!..." Gritei com ele também. Mas ele rodou nos pés para um lado e para o outro, exatamente como sempre fazia ao ficar nervoso. Nesse momento o clima esquentou e quase pintou um sururu entre nós,quase brigamos, podes crer, e berrou: "Não é nada disso!!!! Pelo amor de Deus! É carnaval! É alegria! É descontração! Nós só prestamos pra organizar. Quem faz é ELE! ( se referindo ao Osvaldo Nunes), ele rebola pra todo mundo e todo mundo entra no embalo; você consegue isso??" e encerrou. 

Nos entreolhamos todos, todos de caras bem amarradas,fazendo o bico do Jamelão virar bilu-bilu, reinou um longo silêncio, e cada um tomou uma talagada de samba-em-Berlim. Respiramos, como que aliviados, e ele perguntou se podia contar com a gente, todo cheio de humildade, como era seu estilo, e o "CLARO PORRA!! saiu em côro. "Pois é; o pessoal do Cacique tá armando, diz que vai cercar a gente lá na Praça Onze e vem com tropa ( geralmente, capoeiristas)..."  e interrompemos ele informando "Mineira, São Carlos e Santo Cristo vem com a gente; Cacique vai virar tapete!! Urra!!", gritamos todos.

Bom, o garçon trouxe meu galeto e uma Black Princes. Os colegas xingam meu gosto por cerveja preta, e lhes explico que ela não empapuça.O papo continua. Daqui, vamos pra reunião com a TROPA DO CORDÃO. Já sabemos que o Cacique vem com tudo. Pedimos a quadra do ASTÓRIA ( Astória Futebol Clube, do Catumbi) para fazermos um "preparo" com o pessoal. Tem que ser  à vera. Ninguém pode treinar "faz-de-conta". Como militares, sabemos as táticas de luta em tumulto e vamos colocar nossos conhecimentos a serviço da comunidade, ensinando a se defender e a defender nosso bloco. 

Após o nosso lanche, cada um entrou no seu carro e fomos para o Catumbi. Ao chegar na Rua Van Erven, não conseguimos estacionar e fomos lá pra porta do cemitério, deixamos os carros lá e fomos para o Clube. Tinha mais de cem cabeças. Seu João, o funcionário escalado para abrí-lo para nós até estranhou: que bloco é esse que só tem homem?! É o pessoal do cordão, Seu João, lhe expliquei. Ele ironizou com a expressão "Ah, é a tropa de choque!", expressão muito popular na época devido às tropas do Exército que rondavam a cidade o tempo todo no início da ditadura militar. Explicamos ao pessoal o que estava por acontecer e que a nossa função era só proteger o bloco mas  que, infelizmente, isso não aconteceria sem entreveros. Fizemos treino corpo-a-corpo, treino com bastões e defesa contra arma branca. Após três horas de exercícios, escalamos quem seria linha de frente, laterais e aniquilamento. Ou seja, a linha de frente romperia o bloqueio inimigo, as laterais provocariam divisão do seu grupo e a turma do aniquilamento cuidaria dos seus especialistas.

Às seis horas, quando saíamos, chegou o Tião, afoito e emocionado com o que viu. Foi recebido com aplausos, abraços e gritos da galera. Só faltava uma semana para o carnaval e nós já estávamos prontos. Mas não sei por que cargas d'água, a organização do carnaval sempre nos colocava no mesmo dia do Cacique; parece até um proposito: quer que a gente mate um ao outro. sabe muito bem das nossas rivalidades, sabe dos nossos bairrismo, e mesmo assim, nos agenda para o mesmo dia; é covardia pura. 

Chegou o nosso dia, terça-feira de carnaval e lá vão os blocos pra avenida. Uma parte da bateria, com equipamentos mais leves,  se concentrou no Largo do Catumbi, quase em frente ao portão do cemitério, pra aglutinar o pessoal. A outra parte, os destaques, os carros de som e os apoios vocais, ficaram esperando lá na Rua Carmo Neto. Osvaldo Nunes ficou com a gente, saiu cantando no chão, à frente de uma kombi com duas caixas de som. Às oito horas da noite, estendemos o cordão e demos partida. Tínhamos,nesse momento, em torno de mil foliões, pois ocupamos o quarteirão da Igreja da Salete até à chegado cemitério. o bloco seguia em passo lento, que era pra não cansar ninguém, pois quando chegasse a hora da apresentação na Presidente Vargas, tínhamos de estar com muita energia. Ao chegarmos na Carmo Neto, recebemos mais um reforço em torno de quinhentas pessoas e com a complementação da bateria e do caminhão de som, deu para a cidade sentir  a presença  do BAFO DA ONÇA:

   " Nessa onda que eu vou / nessa onda iaiá / é o Bafo da Onça / que acabou de chegar / Olha a rapaziada / oba / vem dizendo no pé / oba / as cabrochas gingando / e como tem mulher / todo mundo presente / olha a empolgação / esse é o Bafo da Onça / que eu trago guardado no meu coração / é o bom, é o bom, é o bom!"  

Osvaldo Nunes foi no caminhão e os apoios no chão, cantando a meia voz e economizando garganta para a hora certa, lá na frente da CENTRAL. No cordão, tínhamos em torno de 200 cabeças, parada dura para o Cacique. Tião passava por mim, de vez em quando, esfregando as mãos na cabeça, preocupado. Eu, da minha parte, procurava tranquilizá-lo, pois só tínhamos "madeira de dar em doido", sujeitos porradeiros e bem treinados. Descemos a Sapucaí, ao lado da Brahma, aquecendo corpos e vozes, na esperança de que o Cacique já tivesse passado ou estivesse atrasado, pois não sabíamos a hora da sua apresentação. Minha função era coordenar o CORDÃO, e, sempre que passava pelo Osvaldo Nunes, gritava: "Canta minha cigarra!", pra irritação dele, que me fuzilava com os olhos. e eu saia rindo. A certo momento, eu saí caminhando na frente do bloco e fui para a Presidente Vargas, ver se havia alguma movimentação, mas o nosso som estava bem alto e dava pra ser ouvido a quilômetros. Lá no Santo Cristo, as pessoas acenavam bandeiras para nós, era a cidade cantando com o Bafo da Onça, Quando avistei a concentração do Cacique, localizada da frente do Hospital São Francisco de Assis até quase a Praça da Brandeira, um calafrio tomou conta do meu corpo e eu pensei comigo: vai ser uma carnificina. "Seja o que Deus quiser!", gritei pra mim mesmo e voltei, fui correndo ao Osvaldo Nunes, pedi pra mandar parar o bloco e avisei que o Cacique estava chegando também, o que ele fez imediatamente. O Tião veio correndo e eu lhe avisei, convoquei meus irmão em Ogum e fomos em frente, abrir caminho... Quem estava em nossa frente, virou tapete, em menos de meia hora. Não sei de onde veio tanto porrete; só pode ser do pessoal da Brahma, pois nós só contávamos com os braços, e, de repente apareceu uma kombi entregando pau pra todo nosso pessoal, que daí em diante, não economizou energia mais, bateu até cair. Sei que lá da frente do Balança-Mas-Não-Cai até ao Hospital tinha gente estirada pelo chão; as equipes do Corpo de Bombeiros e do Hospital Souza Aguiar trabalharam como nunca em suas vidas, e, que eu me lembre, batalha campal parecida, só a do FLA X FLU de junho de 1969. Mas o mais engraçado de tudo isso, aconteceu lá na enfermaria do Hospital Souza Aguiar, entre eu e um "Caciquista": Ele na maca dele e eu na minha maca, e, quando nos identificamos, avançamos um no outro, sem antes saber que estávamos sob efeito de algum "calmante", porque tanto eu quanto ele, caímos no chão igual duas abóboras.

Mas hoje, quando comento isso com meus velhos companheiros, surgem aquelas expressões nostálgicas, tipo " não se faz mais carnaval como antigamente, ou "hoje não existe carnaval, só turismo e dinheiro", ou então " o carnaval deixou de ser da comunidade", entre outras. E mais uma vez, quarenta anos depois, após um lanchinho de galeto com Black Princes, em Vila Valqueire, convidei-os para checar uma turma de bloco ( Mania de polícia!): fomos a Bento Ribeiro e nos acomodamos num barzinho ao lado de uma oficina mecânica, onde o Bloco Órfãos da Águia se reúne para "sair" e rimos às gargalhadas, pois estão fazendo a mesmíssima coisa que nós; daí, levei-os à Boiuna, em Jacarepaguá, aonde também nos aconchegamos no barzinho do Seu Chico, à beira do valão, na estrada do Pau Velho, onde o Piolhos da Boiuna está aquecendo as turbinas para confrontar o outro na Estação de Madureira. Aí lhes perguntei: O carnaval mudou?  

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sábado, 15 de novembro de 2014

TIA CIATA, MÃE DE TODOS * Antonio Cabral Filho - Rj

-Profeta Gentileza-
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TIA CIATA, MÃE DE TODOS,
chamava-se Hilária Batista de Almeida, nome europeu, possivelmente cristão, nasceu livre em 23 de abril de 1854, na cidade de Salvador - Ba, mas há controvérsias sobre seu local de nascimento, pois algumas fontes afirmam ser Santo Amaro da Purificação; polêmicas à parte, nascer livre na Bahia de 1854 não era o mesmo que nascer livre hoje. É preciso ressaltar que a Bahia naquele último século, 1754-1854, quando ela nasce, viveu em permanente levante contra a escravidão dos povos negros. Podemos constatar mais de trinta rebeliões negras até 1835, com a Revolta Malê. Nesse período, intensificou-se a comunicação entre as diversas etnias submetidas à escravização no Brasil e um fator importante na sua articulação interna rumo à libertação foi o exercício de atividades extra casa-grande, ou seja, o cativo de ganho, como eram denominados os negros que tinham uma profissão, usavam uma parte do seu "dia de trabalho" para circular nas redondezas vendendo algum produto, oferecendo seus serviços a outros ou ainda produzindo artesanato em algum local, em geral na via pública. E muitos desses cativos eram lideranças entre suas etnias e saia em busca de outras para se unirem em torno do objetivo comum, ou seja, lutar contra a escravidão. Assim é que seria possível alguém nascer livre em um ambiente escravocrata, pois grande parte dessas etnias compravam dos senhores a sua alforria e devemos nos lembrar de que a Lei do Ventre foi promulgado em 1861.
TIA CIATA
Esse é um dado que explica o fato de TIA CIATA ser cozinheira por tradição de família e dominar tranquilamente a culinária africana, tão comum na Bahia. O fato de vir a ser Mãe de Santo prova outro  elemento importante, demonstrando que sua raiz etnica não é muçulmana e vinculada às manifestações afro-culturais libertárias, diferentemente daquela, que incluia no manifesto de seu levante a execução de mulatos. Outro fator significativo na biografia de TIA CIATA, é que ela veio para o Rio de Janeiro aos 22 anos, em 1876, no interior de um dos maiores êxodus da história abolicionista brasileira, que ficou conhecido como Diáspora Baiana e se constituia de multidões de negros libertos saindo da Bahia em direção a outros lugares do Brasil, em busca de trabalho, e um desses destinos era o Rio de Janeiro, por se tratar de capital do país e onde o movimento abolicionista era fortíssimo, tendo inclusive a participação de membros da Família Real, dos quais o principal era publicamente conhecido, a Princesa Isabel. 
Essas levas de homens livres chegaram à cidade e foram se amontoando aonde fosse mais fácil conseguir meios de sobrevivência, e o Porto do Rio de Janeiro era uma grande opção, pois carecia de mão de obra disposta a encarar um dos trabalhos ainda hoje terríveis, conhecidos como ESTIVA, o descarregamento manual de navios. No bojo disso tudo, TIA CIATA
 foi residir inicialmente na Rua General Câmara, que ia da Praça da Bandeira até ao Campo de Santana, aonde hoje é a pista direita da Avenida Presidente Vargas no sentido Candelária, depois na Rua da Alfândega e a seguir na Rua Visconde de Itaúna, também engolida pela abertura da atual "Presidente Vargas", exatamente naquele trecho entre o edifício Balança-Mas-Não-Cai e a Rua Marquês de Sapucaí, tradicional localização da antiga Praça Onze ou melhor, do que restou dela.

Devido a sua atividade gastronômica ligada à culinária africana, reafirmando a tradição empreendedora do "cativo de ganho" com a produção de  iguarias baianas, sua casa atraía grande quantidade de políticos, boêmios, músicos e personalidades do mundo afro, entre os quais  líderes rebeldes negros, a maioria para saborear seus quitutes e muquecas, mas daí para uma articulação política e uma  roda de batuque era um pulo. Foi assim que sua casa ficou conhecida e sua fama propagada.

Tia Ciata foi também uma Mãe de Santo especial, pois era em seu TERREIRO  que se realizam as seções de culto aos orixás e divindades do candomblé, sempre crescentes em popularidade. Assim que chegou à Cidade Maravilhosa, Tia Ciata conheceu Norberto da Rocha Guimarães, do qual engravidou e nasceu sua primeira filha, batizada com o nome de Isabel, mas o caso não foi adiante  e ela seguiu trabalhando pelo seu sustento e da filha fazendo o que sabia desde o berço: quitutes africanos. Mais tarde, conheceu João Batista da Silva, quartanista de medicina na Bahia, moço bem sucedido na vida e ambos se apaixonaram, advindo daí quatorze filhos. Além disso, Tia Ciata era conhecida ainda por suas CURAS, e devido às batidas policiais na Praça Onze, um investigador de polícia conhecido como Bispo, descobriu seus "poderes", e, como trabalhasse junto ao Presidente Wenceslau Brás, decidiu ajudá-lo na cura de uma ferida que não cicatrizava, propondo-lhe ir até ao TERREIRO da Tia Ciata, afirmando-lhe que ela podia curá-lo. O mandatário topou e foi até ela, que incorporou um santo de cura, benzeu-lhe a perna e receitou um emplastro de ervas, que acabou por curá-lo e cicatrizar aquela ferida. Quando Wenceslau Brás se viu curado, procurou Tia Ciata e perguntou-lhe do que mais necessitava naquele momento, cuja resposta foi " eu não preciso de nada", mas se puder ajudar-me, eu gostaria que empregasse o meu marido. Assim João Batista da Silva tornou-se chefe de gabinete na chefatura de polícia do Rio de Janeiro.     
Devemos nos lembrar de que o período pós-abolição gerou um acirramento de contradições sociais muito forte no Brasil, que atirou o povo negro na rua da amargura, sem casa, sem trabalho, a maioria sem qualificação profissional, além da discriminação racial, que criminalizava as manifestações da cultura afro. Nesse ínterim usava-se muito como artifício, para confundir ouvidos desagradáveis e alcaguetes, a mistura das rodas de batuques com cultos e reuniões abolicionistas, de modo que quem ouvisse, não saberia do que se tratava, se diversão, política  ou culto.  "Tem samba nesta macumba!", era uma das tantas expressões racista usadas pela polícia durante as invasões aos cultos ou às rodas de samba, enquanto recolhia instrumentos e indumentária carnavalesca ou religiosa, muito mais devido à ignorância sobre os mesmos, pois o policiamento se constituía, basicamente, de elementos incultos e inimigos da cultura negra. Portanto, não é de se admirar que um quase-doutor em medicina vivesse desempregado na Capital da República, de um país que se apresentava como "moderno!" perante o mundo, e, não fosse a astúcia de uma mulher habilidosa - chamada carinhosamente pelo povo como TIA CIATA- um homem negro qualificado não teria colocação na sociedade branca. No entanto, ela revelou-se maior ainda, ao manobrar com os poderes da jovem república criando uma área livre de policiamento em torno da Praça Onze, para garantir tranquilidade aos cultos, ao lazer e às articulações políticas advindas do movimento negro nascente.
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